Por volta dos anos ’30 do século passado, não havia em Montemor quaisquer serviços de saúde.
Os partos eram assistidos por uma curiosa – Tia Carolina “do Gaitas”.
Nas crianças pequenas, especialmente nos bebés, eram frequentes os casos de disenteria; se a criança estava de “caganeira” e tinha passado a ”fazer verde” isso podia ser “andaço”. De um modo geral, morria alguns dias depois.
A mortalidade infantil era portanto elevada. De tal forma que os funerais destas crianças eram efectuados muitas vezes sem a participação directa dos pais. Em muitos casos, as crianças eram levadas para o cemitério de Loures, sobre uma pequena padiola à cabeça de uma mulher, às vezes sem acompanhamento.
Quanto às situações de doença dos adultos, se o caso se complicava, era então chamado o experiente médico - Dr. Fernando Cunha - de Odivelas.
Os casos complicados eram remetidos para o Hospital de S. José em Lisboa.
Também havia quem recorresse à “Bruxa da Malveira” que aliás morava na Venda do Pinheiro. Levava-se uma peça de roupa do doente e ela trataria do resto. Casos de dores ósseas (braços partidos, etc.) eram porém encaminhados para o “Endireita” da Esperança, em Lisboa.
Nas situações em que o Dr. Cunha prescrevia cuidados especiais envolvendo a aplicação de injectáveis, não era chamado qualquer enfermeiro que aliás só havia em Odivelas ou em Caneças. Quem se encarregava da aplicação destas injecções, com observação dos horários ou outras recomendações, era o “mestre Augusto”, Augusto Simões Catarino (pai do autor deste texto), que além de comerciante e barbeiro, também se ocupava destes cuidados.
A sua seringa de vidro e as velhas agulhas, existem ainda.
Se o doente morria entretanto, era homem e tinha a barba crescida, ainda ia fazer a barba ao defunto. Não se sabe se cobrava algo pelo serviço.
No meio disto, como o médico só era chamado quando o doente já estava bastante mal, acontecia que quando se ouvia a característica buzina do carro “Fiat Ballila” do Dr. Cunha, muitas pessoas perguntavam quem estava para morrer.
Para tratamento de ferimentos mais ou menos ligeiros (o que era corrente no tempo das ceifas, por exemplo), era aplicado um curioso “curativo” - uma fava !
Depois de desinfectada a ferida (álcool, borato ou mercurocromo) era escolhida uma fava grande que era cozida e a que se retirava o miolo.
Depois era cortada pelo lado do olho afim de formar uma cápsula que era então aplicada no dedo; a ferida ficava preservada de qualquer infecção e acabava por sarar dentro de pouco tempo.
Porque não havia outros transportes, os funerais eram feitos a pé pela instituição de solidariedade social, - Associação Luís Pereira da Mota - de Loures que dispunha para este efeito de um carro fúnebre com decoração apropriada (tipo carroça puxada por uma mula). O velório era feito em casa do próprio defunto
Os acompanhantes, (todas as famílias se faziam representar) seguiam a pé de Montemor formando um cortejo atrás da “carreta” até ao cemitério de Loures. Concluído o funeral e bebido um copito, regressava-se a Montemor pelo Correio-Mór.
Pagava-se uma quota anual ao “homem da carreta” para se assegurarem os serviços da “Associação” quando viesse a ocorrer qualquer funeral na família.
Os partos eram assistidos por uma curiosa – Tia Carolina “do Gaitas”.
Nas crianças pequenas, especialmente nos bebés, eram frequentes os casos de disenteria; se a criança estava de “caganeira” e tinha passado a ”fazer verde” isso podia ser “andaço”. De um modo geral, morria alguns dias depois.
A mortalidade infantil era portanto elevada. De tal forma que os funerais destas crianças eram efectuados muitas vezes sem a participação directa dos pais. Em muitos casos, as crianças eram levadas para o cemitério de Loures, sobre uma pequena padiola à cabeça de uma mulher, às vezes sem acompanhamento.
Quanto às situações de doença dos adultos, se o caso se complicava, era então chamado o experiente médico - Dr. Fernando Cunha - de Odivelas.
Os casos complicados eram remetidos para o Hospital de S. José em Lisboa.
Também havia quem recorresse à “Bruxa da Malveira” que aliás morava na Venda do Pinheiro. Levava-se uma peça de roupa do doente e ela trataria do resto. Casos de dores ósseas (braços partidos, etc.) eram porém encaminhados para o “Endireita” da Esperança, em Lisboa.
Nas situações em que o Dr. Cunha prescrevia cuidados especiais envolvendo a aplicação de injectáveis, não era chamado qualquer enfermeiro que aliás só havia em Odivelas ou em Caneças. Quem se encarregava da aplicação destas injecções, com observação dos horários ou outras recomendações, era o “mestre Augusto”, Augusto Simões Catarino (pai do autor deste texto), que além de comerciante e barbeiro, também se ocupava destes cuidados.
A sua seringa de vidro e as velhas agulhas, existem ainda.
Se o doente morria entretanto, era homem e tinha a barba crescida, ainda ia fazer a barba ao defunto. Não se sabe se cobrava algo pelo serviço.
No meio disto, como o médico só era chamado quando o doente já estava bastante mal, acontecia que quando se ouvia a característica buzina do carro “Fiat Ballila” do Dr. Cunha, muitas pessoas perguntavam quem estava para morrer.
Para tratamento de ferimentos mais ou menos ligeiros (o que era corrente no tempo das ceifas, por exemplo), era aplicado um curioso “curativo” - uma fava !
Depois de desinfectada a ferida (álcool, borato ou mercurocromo) era escolhida uma fava grande que era cozida e a que se retirava o miolo.
Depois era cortada pelo lado do olho afim de formar uma cápsula que era então aplicada no dedo; a ferida ficava preservada de qualquer infecção e acabava por sarar dentro de pouco tempo.
Porque não havia outros transportes, os funerais eram feitos a pé pela instituição de solidariedade social, - Associação Luís Pereira da Mota - de Loures que dispunha para este efeito de um carro fúnebre com decoração apropriada (tipo carroça puxada por uma mula). O velório era feito em casa do próprio defunto
Os acompanhantes, (todas as famílias se faziam representar) seguiam a pé de Montemor formando um cortejo atrás da “carreta” até ao cemitério de Loures. Concluído o funeral e bebido um copito, regressava-se a Montemor pelo Correio-Mór.
Pagava-se uma quota anual ao “homem da carreta” para se assegurarem os serviços da “Associação” quando viesse a ocorrer qualquer funeral na família.
Levier Duarte Catarino
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