09 novembro, 2007

OS VERANEANTES

Sempre houve famílias que vieram para Montemor, para aqui viver, procurando novas condições de vida e de trabalho. Muitas prosperaram e acabaram por se radicar por cá.
Outras, tidas por veraneantes, encontraram em Montemor condições de repouso ou de saúde, acabando estabelecer aqui uma segunda residência.
Os primeiros, nos anos ’30, do século passado, fixaram-se na Quinta da Baleia e na Quinta da Fonte.
Outros, construindo ou alugando casa, dedicaram-se à terra e à sua gente.
Apontam-se para já o caso de algumas famílias:

António Alves Barata (sócio da Farmácia Barral – Lisboa) que adquiriu a Quinta da Baleia. Este senhor faleceu cedo, mas a família sempre se integrou na vida da aldeia. Um dos filhos jogava futebol no Sporting Clube de Portugal e integrava de vez em quando o grupo de futebol que assim se foi organizando em Montemor.

Engº. Carlos Santos (Director da CP e Presidente da Câmara Municipal de Sintra) que arrendou a Quinta da Fonte, por volta de 1934 / 35 procurando condições para que uma das filhas do casal se pudesse restabelecer aqui de qualquer enfermidade.
Não só porque se encontrava escondida naquela Quinta a imagem de N. S. da Saúde, mas porque esposa - D. Maria Justina Grandella Santos – possuída de um elevado espírito cristão, logo iniciou em Montemor uma acção de evangelização – catequese – com o apoio do Pároco de Loures, Rev. Pe. Abílio de Carvalho.
Em consequência dessa acção, dentro de algum tempo, foram baptizados na Igreja Matriz de Loures, recentemente reaberta, as crianças e jovens do lugar que tinham ficado vários anos sem assistência religiosa; tornou-se ela própria (e as filhas) madrinha de quase toda a gente. Constrói posteriormente casa no “Cerrado da Fonte” onde continua a sua acção.

[1º grupo catequizado pela D. Maria Justina Grandella Santos, em 1935/36]


Com a ajuda do povo e de outros veraneantes também interessados na reconstrução da Capela, inicia essas obras por volta do ano de 1936, tendo já havido no ano seguinte a festa anual em honra de Nª. Sª. da Saúde, interrompida há vários anos (primeiro Domingo de Setembro como era de tradição).
Alem da acção religiosa, dispensou particular atenção às condições de saúde das crianças e jovens da aldeia. Com a colaboração do marido e o apoio da Junta de Estremadura (Lisboa), organizou a vacinação das crianças, bem como o rastreio e acompanhamento de casos de tuberculose. Todos acabaram por tomar o célebre “óleo de fígado de bacalhau”.
Para além destas actividades, organizou e manteve uma “Casa de Trabalho” onde, em complemento da catequese, eram proporcionadas lições de costura e bordados a diversas raparigas mais crescidas, isto para alem de lições de higiene, puericultura, etc.
Por alturas do ano de 1947, a senhora adoeceu com gravidade tendo sofrido, em Londres, uma delicada intervenção cirúrgica, pela mão do Prof. Egas Moniz. Deixou portanto de se deslocar a Montemor e a sua obra teve de ser interrompida.

Joaquim Maria de Mira (dono de uma empresa de transportes no Campo das Cebolas) chegou a Montemor mais tarde mas integrou-se na vida dos montemorenses e colaborou em muitas actividades, integrando de comissões de melhoramentos locais.
Podemos encontrar a sua fotografia no acto da inauguração das obras do Largo da Boa-Vontade. Construiu casa própria, no Ribeiro, a que pôs o nome de “Vivenda Miratejo”.

Jorge de Oliveira Boturão (Director da Soc. Nacional Fósforos – Lisboa), vivia em Lisboa (Paróquia do Lumiar) tendo vindo para aqui por volta do ano de 1948, dizendo-se montemorense já que nasceu aqui perto.
Com o apoio do Pároco de Loures, Rev. Pe. Antero Jacinto Marques, retoma a acção da catequese e da vida religiosa em Montemor, introduzindo imensas benfeitorias nas dependências da Capela, equipando as salas com diverso material didáctico.
Além da Catequese introduz o Apostolado da Oração, a Cruzada Eucarística das Crianças e a Liga Eucarística dos Homens.
É ainda ele quem promove na Sociedade Recreativa Beneficência Montemorense, depois de ampliadas as suas instalações, as primeiras representações de teatro a cargo de um óptimo grupo de jovens do Paço do Lumiar.





Com a colaboração da Pia Sociedade de S. Paulo, edita o Notícias de Montemor que passa a ser distribuído juntamente com o semanário “O Domingo”.

João Augusto Porto (comércio de desinfestantes) colabora com um cunhado na construção do “Casal das Arrelias” (ou dos arreliados) adquirindo posteriormente (1948 ?) o “Cerrado da Fonte”
Era muito afável e não pode deixar de se referir que toda a miudagem gostava dele.
Na altura do “Pão por Deus” dava sempre 2$50 (uma moeda de prata) a cada miúdo. Ninguém faltava lá !



Levier Duarte Catarino

2 comentários:

Unknown disse...

Na fotografia da catequese encontra-se a filha de Maria Justina Grandella Santos, que se considerava de Montemor de coraçao. Maria Virginia Grandella (mais tarde Pessoa e Costa).
Obrigado por manterem viva a história e as memórias...
Pedro Pessoa e Costa

António José Boita Paulino disse...

Caro Pedro Pessoa e Costa,
Gostaria de receber o seu contacto, e se tiver outros documentos desta história de Montemor, agradeço.