19 novembro, 2007

O LAZER

Nos anos ’30 a TV ainda não tinha chegado ao nosso País. Por esta altura em Montemor, nem sequer havia quem tivesse rádio. Havia porem uma “grafonola” no estabelecimento comercial do Ti’ Jerónimo, que também tinha Barbearia.
Dava-se corda à grafonola, o disco girava e, através de um sistema com uma agulha, ouvia-se então (de forme mais ou menos rouca), a canção da “Vaca Amarela” e o “Fado da Maria Alice”. Era uma festa ...
Mais tarde, mesmo não havendo electricidade, apareceu a Rádio.
Foi na Loja do Ti’ Rodrigues (Rodrigo Gregório) que tinha um estabelecimento comercial de Mercearia e Padaria.
Mandou instalar um pequeno gerador eólico e quando havia vento, podia acender-se uma lâmpada eléctrica e havia música ou relatos de futebol.
Havia um terceiro estabelecimento comercial da Ti’ Rosa do Júlio (Rosa de Jesus) com Mercearia, Vinhos e Casa de Pasto (junto havia a barbearia do filho “mestre Augusto), mas não tinham nada disso.
Ali a animação era outra e permanente; havia sempre um ou mais cochichos que cantavam muito e bem.

Ti' Rosa do Júlio

[foto cedida por Levier Duarte Catarino]

Junto ao estabelecimento comercial do Ti’ Rodrigues havia um espaço coberto (debaixo da Escola Velha) onde se podia jogar o chinquilho.
O jogo consistia em arremessar uma malha (disco de ferro) que devia atingir um palito (peça de madeira de palmo e meio de altura) colocado num tabuleiro de madeira situado a uns 20 metros de distância (chamado cama). Se a malha acertava no palito o jogador ganhava dois pontos.
O jogador que no fim de cada jogada colocasse a sua malha mais perto do “prego” (ponto onde se instalava o palito), ganhava um ponto. Este jogo só funcionava nas tardes de Domingo ou Feriados e era normalmente feito por equipas de 2, 4 ou mais jogadores.

Havia também a caça. Entre os caçadores havia o grupo dos “fortes” e outro dos “fracos”. È evidente que os caçadores “fortes” eram assim chamados por que apanhavam normalmente mais caça.
Os grupos tinham “um ou dois espingardas” e uns cinco ou mais batedores. Todos tinham muitos cães. Os cães dos “fortes” também eram os melhores, claro.
Os caçadores mais famosos eram o Ti’ Domingos Viana (Moca) e o irmão Fernando Viana (Pires) e mais tarde o filho Francisco Viana (Moquita). Chegaram a apanhar uma raposa. Sobre coelhos nem se fala…

Nas tardes de Domingo, também se jogava o futebol. A miudagem jogava a bola na “Eira Velha”. Quando o Engº Carlos Santos estava disponível, jogava-se com a bola de couro que ele próprio emprestava.
Às vezes dava uns pontapés. Fora disso, jogava-se com bola de trapos ou de borracha. Os homens jogavam no campo e tinham equipamento próprio: camisolas amarelas e pretas, às riscas.
Com alguns apoios, quando a miudagem cresce, é fundado o Grupo Desportivo de Montemor (camisolas amarelas e calções pretos).
Mais tarde, é na sede deste Grupo Desportivo, que é instalado o primeiro Televisor em Montemor (taxa de 1$00 por noite).
Quando se funde com a Sociedade Recreativa de Beneficência Montemorense tinha, além do futebol, ténis de mesa e outras actividades.
[foto cedida por Levier Duarte Catarino]

No Carnaval apareciam as cegadas que eram muito apreciadas.
Tratava-se de grupos de teatro popular que representava na rua (às vezes na Sociedade) as suas peças com cariz cómico como era próprio da época, mas também outras com fundo dramático. Estas vinham normalmente da gente do Zambujal. Do Barro de Loures, vinham sempre cegadas cómicas.


Um conjunto de jovens mascaradas no Carnaval
[foto cedida por Encarnação Gregório Duarte]

Na Sociedade havia nesse tempo o bailarico saloio, por vezes com cantigas à desgarrada.
Os “caraceiros” apareciam logo no Domingo “magro”, altura em que se começava a mandar as pulhas…

[foto cedida por Levier Duarte Catarino]

O que eram as pulhas ? Eram ditos (ou “bocas”) que se apregoavam a partir do “Alto do Nico” afim de poderem ser ouvidas no Lugar, na Fonte ou mesmo no Rio da Lage.
Uma delas era assim:
Cá vai uma pulha …
P’ra a gente do Lugar
Vai carregada de merda
P’ra quem a apanhar !
Findo o Entrudo, ainda havia folgazões que na Quarta-Feira de Cinzas iam fazer o habitual “Enterro do Carnaval”. Tratava-se de uma praxe em que só participavam homens (os rapazes metiam-se à socapa), representando um deles a figura da “Viúva do Carnaval” chorando a sua morte.
Diziam-se algumas obscenidades e no fim queimava-se o “morto”.
O Jazz também colaborava na festa; havia sempre filhós (filhóses como se dizia) e eram muito boas.

Levier Duarte Catarino

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